O vermelho

Tudo sobre a cor, da a química à moda

A púrpura

Da Roma antiga à atualidade

O índigo

Como surgiu a cor dos seus jeans

domingo, 27 de julho de 2014

Sobre o trabalho e sua proposta

Com base no livro "Os Botões de Napoleão - As 17 Moléculas que Mudaram a História" , o grupo tinha como objetivo abranger o conteúdo do capítulo referente à história dos corantes com uma abordagem moderna, diferente, interativa e menos convencional. Assim, surgiu a ideia de se criar um blog onde os componentes do grupo pudessem postar suas pesquisas e conclusões, tornando o conteúdo acessível a qualquer pessoa. 
A proposta é de que cada post feito seja referente a um corante retratado no capítulo, considerando sua importância na história, na moda ou algo do tipo, seus aspectos químicos e curiosidades. Assim, pode-se relacionar um conteúdo que poderia ser aprendido em sala de aula a coisas presentes no dia a dia de cada pessoa, o que torna o aprendizado muito mais dinâmico, mais interessante e, de certa forma, mais fácil.

Esperamos que todos aproveitem o conteúdo compartilhado e, se possível, compartilhe conosco outras informações!

Grupo: Marina Schmidt e Amanda do Valle
IFF - Instituto Federal Fluminense, Campus Cabo Frio 
Turma: Hospedagem III

terça-feira, 22 de julho de 2014

O Índigo

Diz-se que a mais de 700 anos atrás, em uma de suas viagens ao vale do Indo, Marco Polo reparou o uso da cor azul, e assim a nomeou de índigo, mal sabendo que a coloração já era muito requisitada e valiosa em outras partes do mundo, tal como o sudeste da Ásia e na África. Também conhecido como anil, ou mais popularmente, azul, o índigo não é comum em plantas, porém pode ser encontrado em raras espécies da família das leguminosas. Uma delas é a Indigofera tinctoria, planta que alcança até 1,80m e é encontrada em áreas de clima tropical e subtropical. Outra espécie fonte da matéria corante índigo é uma das mais antigas plantas corantes da Europa, conhecida como Isatis tinctoria e mais comum em regiões de clima temperado.
Indigofera tinctoria

Apesar da possibilidade da extração dessa tonalidade, as plantas que possuem tal qualidade para retirada desse corante não são visivelmente azuis. A descoberta do índigo se deu por folhas das plantas que acidentalmente ensopadas de urina ou coberta por cinzas e depois deixadas para fermentar liberaram tal coloração.
A explicação para tal fenômeno é indicã - uma molécula que contém uma unidade de glicose associada que está contida em todas as plantas que produzem o índigo. A indicã por si só é incolor, é após a fermentação numa substância alcalina que a unidade de glicose se rompe, formando assim a molécula de indoxol, que reagindo com o oxigênio do ar produz a indigotina, que possui tonalidade azul ou índigo, como pode-se observar na reação representada a seguir:

Por séculos o índigo foi fabricado nessas condições. Só em 1865, o químico alemão Johann Friedrich Wilhelm Adolf von Baeyer começou sua investigação sobre o corante índigo e em 1880 foi descoberta uma forma de produzir o corante sinteticamente a partir de materiais facilmente obtidos, porém seu comércio não era viável.
Primeira síntese do índigo por Baeyer

Após 17 anos, uma nova forma de obter o índigo sintético permitiu a comercialização do corante pela empresa alemã Badische Anilin und Soda Fabrik (BASF), gerando grande declínio na indústria de índigo natural, que hoje em dia é usado para tingir jeans devido ao seu poder de fixação baixo, uma vez que a coloração é aplicada no tecido e depois desbota facilmente até atingir a tonalidade desejada.
O índigo já foi adotado de diversas maneiras diferentes e com diferentes significados na sociedade. Pela dificuldade de encontrá-lo, o azul já foi destinado a temas nobres, assim como já foi destinado aos trajes dos servos, uma vez que o vermelho era a cor da nobreza. Também já foi associado aos bárbaros pelos romanos durante a Antiguidade.

Apesar de não ser uma cor representativa no mundo da moda atualmente, o índigo está presente no dia a dia das pessoas, não somente pelos descontraídos e práticos shorts e calças jeans. Mas também por ser uma cor representativa da tranquilidade, do céu e do mar, da paz.                                                        

A Púrpura

Mapa do território atual do Líbano
Mais valiosa do que o índigo e de molécula muito semelhante ao mesmo, tem-se a cor púrpura de Tiro. O nome vem de Tiro, o principal porto marítimo da antiga Fenícia, no território conhecido atualmente como Líbano, o qual possuía um bem-sucedido comércio de tecido púrpura.  

A produção e exportação do corante começou por volta de 1.200 a.C., impulsionado pela expansão da Fenícia no Mediterrâneo. No século III a.C., púrpura de Tiro chegava a ser mais valiosa do que o ouro, pois somente um quilo custava três vezes o salário anual de um padeiro romano, e estima-se que eram necessários nove mil moluscos para produzir uma grama de púrpura Tiro.  

Assim, a cor púrpura era frequentemente associada às ideias de realeza, riqueza e honra e, em algumas culturas, seu uso era restringido por lei ao rei ou imperador, como, por exemplo, em um decreto imperial na Roma antiga em que uma pessoa "comum" era considerada culpada de alta traição por vestir um traje completo tingido de púrpura da melhor qualidade. Desta forma, tem-se outro nome para esse corante, púrpura real, assim como a expressão "nascido para a púrpura", a qual indica origem real, aristocrática.  



A púrpura de Tiro pode ser obtida do muco secretado por certos moluscos, normalmente do gênero Murex - principalmente o brandaris, encontrados em diversas regiões ao longo da costa do Mediterrâneo. Os tons do corante podiam variar, dependendo do exato local de onde foram encontrados os moluscos.  



Quimicamente falando, o corante é o derivado dibromo do índigo, ou dibromoíndigo, uma molécula de índigo contendo dois átomos de bromo. Assim como na planta índigo, o composto secretado pelo molusco está associado a uma unidade de glicose e sua cor brilhante só se revela a partir da oxidação no ar.
  

Para obter a matéria corante, a concha dos moluscos era quebrada e, com uma faca afiada, uma pequena glândula era extraída. Então, o tecido era saturado com uma solução tratada obtida dessa glândula e depois exposto ao ar, a fim de que a cor se revelasse. Inicialmente, a tintura conferia ao tecido um tom amarelado claro, depois, gradualmente, se tornava azul e, finalmente, chegava ao púrpura intenso.  
Na mitologia, acredita-se que o descobrimento da cor se deu pelo herói grego Hércules,  ao notar que a boca de seu cão havia ficado intensamente manchada de púrpura ao morder alguns moluscos, mas, embora os gregos fossem os clientes originais, foram os romanos que se tornaram fãs da cor púrpura. 
A cor era, como já dito, sinônimo de riqueza, status, e estava presente nas túnicas dos senadores romanos, da nobreza e reis europeus e, até, dos faraós egípcios. Devida à grande procura, antes de 400 d.C., já estavam ameaçadas de extinção as espécies de moluscos que a originavam.  


Somente no final do século XIX, com a produção do índigo sintético, foi produzida sinteticamente a púrpura de Tiro, embora outras tinturas púrpura a tenham superado, as quais são compostos orgânicos coloridos incorporados às fibras têxteis, nos quais a estrutura molecular destes permite a absorção de certos comprimentos de onda de luz do espectro visível. Porém, a cor que vemos depende dos comprimentos de onda da luz visível que é refletida.  
Os povos nativos do México, principalmente os Mistecas, também utilizavam muito a cor púrpura. Eles tingiam os tecidos com uma excreção de um molusco chamado Purpura patula pansa, relacionado com um molusco usado pelos tírios. Porém, diferente dos tírios e romanos, os mistecas extraíam o corante sem matar os moluscos, apenas soprando o molusco para fazê-lo liberar líquido e depois devolviam-no ao mar. Também, não extraíam dos moluscos na época de reprodução, fazendo com que a população de moluscos se preservasse até hoje. 
Na moda atual, a cor púrpura, além de simbolizar prosperidade e nobreza, sempre esteve presente no guarda-roupa dos adeptos ao rockpunk gótico, ao lado do preto. Também, seus tons mais escuros remetem o universo. 



O Vermelho

Atribuído historicamente ao amor e também ao pecado, a cor vermelha possui fortes laços com a história do mundo e, em especial, com a história dos corantes.


Especialmente relacionado com a nobreza a partir do século XVII, o vermelho era usado pelo rei francês Luís XIV em suas roupas e calçados, particularmente para ressaltar suas pernas, e também para colorir palácios, em tapeçaria.

A exclusividade da cor, no entanto, é justificada por fatores mais químicos do que aristocráticos. Um dos principais corantes usados para sua obtenção, a cochonilha, que possui como principal molécula o ácido carmínico, derivado da antraquinona, era obtido a partir de corpos esmagados do besouro cochonilha-do-camin, demandando muitos corpos do animal e encarecendo sua obtenção. Ainda assim, países europeus se empenharam na produção de cochinilha  por tanto valorizarem a cor, que tingia também os casacos vermelhos dos soldados britânicos.


Mas a importância do vermelho remete à períodos anteriores a Luís XIV. Na verdade, a cor já era usada na pré história, onde caçadores do período neolítico a consideravam a cor mais importante e a relacionavam a vida, colocando-a inclusive nos túmulos dos mortos. Além disso, por volta do século VIII, na cultura nórdica, o vermelho era designado por teafor (magia), que mais tarde tornou-se ocre vermelho, em relação com o óxido de ferro já usado para colorir e evocar a fertilidade, a qual a cor também era atribuída.

A importância do óxido na obtenção do vermelho se dá sobretudo pelo fato da cor poder ser obtida da planta garança, que contém a matéria corante alizarina (outra derivada daantraquinona), que é mordente, ou seja, depende do uso de um íon de metal para fixar cor ao tecido. Nesse sentido, diferentes íons produziriam soluções mordentes diferentes, com diferentes cores. O vermelho vivo obtido com a junção de mordentes de alumínio e cálcio podia ser obtido a partir de argila com raiz de garança seca, esmagada e pulverizada, processo que teria sido usado, inclusive, por Alexandre Magno em 320 a.C. para atrair o inimigo e derrotá-lo.

A obtenção de corantes a partir da natureza, aliás, sempre acompanhou a história da humanidade e seu progresso. Na América, os índios obtiam a cor a partir do urucum e a usavam para se enfeitarem ou camuflarem-se em batalha, mesmo sem possuírem quaisquer conhecimentos sobre as moléculas envolvidas nessa obtenção. A alizarina e o ácido carmínico, particularmente, duas matérias corantes derivadas da antraquinona das quais se obtém o vermelho, devem essa cor ao maior número de conjugações que possuem em relação à molécula principal, a incolor antraquinona.
Ou seja, a alizarina, por exemplo, por possuir dois grupos OH do lado direito de seu anel, além de ligações duplas e simples alternadas no resto da molécula, possui conjugação suficiente para absorver luz visível e, assim, tornar-se colorida. O mesmo ocorre com oácido carmínico, o que justifica também sua cor.

Outro fato relevante quanto a obtenção do vermelho se dá com a chegada dos portugueses no Brasil. O Pau-brasil, árvore comum no litoral brasileiro, popularizou-se na Europa e atendeu, mais uma vez, a uma demanda crescente dessa cor. O seu sucesso, no entanto, estava mais atrelado à variedade de tonalidades obtidas de seus pigmentos do que à qualidade de sua pigmentação. O vermelho vivo, por exemplo, era obtido a partir de um tratamento ácido da planta com vinagre ou fermento, e entrou em declínio com a síntese do primeiro corante artificial em 1856, a malveína, por William H. Perkin. A partir de Perkin e o posterior desenvolvimento da atividade industrial na obtenção de corantes artificiais, o pigmento brasilína do pau-brasil acabou por ser sintetizado por Robert Robinson. Da oxidação da brasilína de Robinson, obteve-se posteriormente o pigmento brasileína, de coloração vermelha.

Embora a explicação química fosse desconhecida pelos indígenas e até mesmo pelos europeus durante a colonização, não serviu de empecilho ao uso dos corantes. Os astecas, antes mesmo da chegada dos espanhóis, já obtiam o vermelho a partir da cochonilla, e osegípcios antigos também tingiam suas roupas
(e as mulheres, os lábios), com um suco vermelho espremido do corpo do inseto quermes, cujo pigmento vermelho é obtido a partir do ácido quermésico, semelhante ao ácido carmínico.
Para os egípcios, aliás, a cor vermelha tinha outro simbolismo muito forte: representava o deus Seth (deus da violência e desordem) e a maldade, completamente diferente da lenda grega, onde o vermelho é dedicado a deusa Afrodite (deusa do amor) e é associado ao ciclo de crescimento e declínio, em virtude da lenda das rosas vermelhas, provenientes do sangue de Adônis (que teria sido morto por um javali durante uma caçada).

O sentido contraditório do vermelho, na verdade, acompanhou e acompanha a história da humanidade há muito mais tempo do que os gregos ou egípcios jamais poderiam prever. Se, durante o século XVII, o vermelho era relacionado com a nobreza francesa de Luis XIV, essa mesma cor seria usada, um século depois, como símbolo de um movimento revolucionário contrário à própria monarquia, a Revolução Francesa. A partir de então, a cor passou a ser frequentemente associada a revoluções políticas, e esteve presente na revolucionária Comuna de Paris em 1871 e na Revolução Russa, além de ter sido adotada como cor favorita por pensadores como Karl Marx e Émile Zola. Além disso, representou a antiga União Soviética e o Exército Vermelho, e fez parte inclusive do temido "botão vermelho" durante a guerra fria, que prometia a possibilidade de explosões nucleares. De exclusiva da nobreza à revolucionária, a cor acompanhou a superação das técnicas em sua obtenção e, ainda hoje, possui forte caráter político ao ser associada à partidos, principalmente de caráter esquerdista ou comunista, ao simbolizar a ação e a transformação, sentido recuperado também pelos super-heróis ocidentais, como Homem-Aranha, Homem de Ferro, Superman e a Feiticeira Escarlate.

Por outro lado, a cor vermelha foi também associada ao perigo e ao pecado, desde que Eva mordeu a maçã vermelha proibida. O vermelho foi, então, historicamente associado aos semáforos de atenção e as placas de perigo, ao fogo (como nos caminhões de bombeiros, nos hidrantes, nos extintores de incêndio), às incorreções (como nas notas vermelhas e na expressão ficar no vermelho em transações comerciais) e até mesmo às "roupas" do diabo.

O que, mais uma vez, se diverge do sentido assumido em outros lugares do globo. No Oriente, por exemplo, a cor vermelha é associada a felicidade, alegria e celebração e, por isso, é tradicionalmente usada pelas noivas chinesas e é comum durante o Ano Novo Chinês, onde seu uso simboliza sorte, boa fortuna e prosperidade. O hábito de uso do vermelho em casamentos, aliás, já era comum desde a época romana, onde o vermelho era usado em guirlandas e roupas de casamento até o século XVIII, provavelmente em função de seu simbolismo atrelado ao amor e a paixão.

O amor e a paixão, aliás, foram ingredientes fundamentais para popularizar a cor vermelha namoda. Desse modo, o vermelho foi adotado como marca registrada de estilistas como Valentino (com o tal "vermelho valentino") e nas solas dos conhecidos sapatos Louboutin, que, inclusive, já tentou patentear a cor. A comercialização da cor, na verdade, é fortemente atrelada à marca a qual remete, o que explica, por exemplo, o sucesso do "vermelho Ferrari". A gigante do automobilismo mundial utiliza a cor desde os anos 20, por ser exigido pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo) que marcas italianas deviam ter cor vermelha, enquanto outras cores foram atribuídas a outros países. O vermelho também serviu de propaganda de outras marcas, como a Coca-Cola e, até mesmo, de divulgação da maior festa católica, o natal.

Na crença católica, o vermelho simboliza o sangue de Cristo derramado na sua crucificação. Além disso, durante a Idade Média, a peça "O Paraíso", realizada para ensinar a população sobre importantes eventos religiosos encenava Adão e Eva e, particularmente, a fruta proibida mordida por Eva. Desse modo, o cenário representava as árvores do paraíso (verdes) e as maçãs (vermelhas).
O uso do vermelho também é explicado pelo fato do Natal ser uma celebração de inverno no hemisfério norte, e como nessa época poucas plantas florescem e sobrevivem, a cor seria atribuída ao azevinho, de frutos vermelhos e as poinséttias, também vermelhas. O azevinho, inclusive, era tido como forma de afastar os maus espíritos e era colocado na porta das casas.

Já em outras religiões, o vermelho assume, mais uma vez, sentidos diversos. Para a Umbanda, por exemplo, é a cor de um dos axés, e no Candomblé, é Exú, fértil e revolucionário. Enquanto isso, para o Judaísmo, simboliza o ateísmo e no Budismo, a purificação do karma dos desejos.

De qualquer maneira, o vermelho cumpre um papel fundamental na história cultural de diversos países e religiões. De exclusivo da nobreza à símbolo dos oprimidos, a cor sofreu variações de tonalidade e de obtenção sem, contudo, perder sua majestade como cor primária imponente, além de muito contribuir indiretamente no desenvolvimento da química, a medida que a busca por sua obtenção de forma mais simples e econômica motivou muitos químicos e dinamizou essa indústria. Entre as cores preferidas das mulheres (e dos homens!) a cor se popularizou de tal maneira que colore prédios e móveis, roupas e alimentos com cada vez mais frequência. E se, entre outras cores, surgir a dúvida, siga o conselho de Bill Blass, estilista americano popular no século XX.. Vá de vermelho!

Fontes: Os botões de Napoleão - Burreson, Jay.
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-40422004000300010&script=sci_arttext
http://www.ehow.com.br/usamos-vermelho-verde-cores-natal-sobre_175337/ http://modasuacara.blogspot.com.br/2010/04/vermelho-cor-do-sangue-da-furia-fogo.html
http://toconectada.com/2014/04/26/vermelho-para-o-inverno/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vermelho
http://jptop.blogspot.com.br/2013/05/curiosidades-sobre-cor-vermelha.html